terça-feira, 4 de setembro de 2012

Pescador solitário



Acorda cedo,
com o lento despertar da madrugada.
Lava do rosto o pesadelo da noite fria.
Sente-se um farrapo de si mesmo,
pálida imagem reflectida
no manchado espelho da memória.
Recorda vagas lembranças,
de um passado volátil
que a desilusão alimenta.
Estranho ser, vagabundo da esperança,
escondido nas sombras do presente,
e que, entre suspiros, para o infinito avança...

Veste as mágoas quotidianas,
calça a tristeza nos pés cansados.
Bebe o café da ausência,
trinca o pão da miséria.
Olha o leito vazio,
os desejos entre os lençóis sufocados.
Procura os sonhos enrodilhados,
Sobre o tapete caídos...

Afaga o fiel companheiro,
de seu nome, simplesmente, Rafeiro.
Pega na tralha do costume
e fecha a porta da barraca
a que gosta de chamar casa.

Sobre a areia da praia caminha
em direcção ao barco da saudade.
Deixa no solo um trilho etéreo,
de nostalgia e liberdade.
As emoções desfeitas ao vento,
perdidas nas ondas do esquecimento.
Solitário enfrenta o mar,
onde lança as redes com fervor,
e das águas salgadas recolhe…
… um cardume de novos sonhos.

2005

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Recomeçar



Fui até ao fim… do nada
Numa viagem de ida e volta
Demorei tempo demais
E quando regressei
Tu já aqui não estavas.
Peguei no livro da vida
Duas páginas arranquei
Nova redacção escrevi
Um sonho desenhei…

domingo, 2 de setembro de 2012

Desejo



De nada sinto-me feita
(Tão leve e perfeita)
Como se nuvem fosse…
Lá no alto viajando
Desfeita por uma brisa
Na areia adormecida
(ou simples memória esquecida)
Entre sonhos perdida
De espuma formada
Ao sol evaporada
No céu vagueando
(liberta de dor e sofrimento)
Até ao infinito chegar
Em estrela me transformar
Para teu rosto iluminar
Um sorriso feliz encontrar
Teu coração aquecer
E não mais voltar a me perder.

sábado, 1 de setembro de 2012

Agradecimento



Sombra de mim mesma
Em mágoas afundada
Fui aquilo que não quis
Entre o sonho e a realidade
Apenas para te ver feliz…
O teu sorriso, um meigo olhar
Ai, tantas vezes procurei
Um beijo, um simples abraço
Como os desejei…
Uma palavra bastava
Mas nunca a recebi
Por isso desisti…
Todavia não me perdi
E vida nova recomecei!
Das lágrimas que me fizeste chorar
Pérolas de alegria nasceram
Que o passado apagaram
Por isso a ti agradeço
Outro alguém ter encontrado
E a felicidade alcançado.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Docemente



Docemente, a noite chega
E acalma meu coração…
Dispo-me das vestes do dia
Tiro a máscara que trazia
E adormeço…

Pelas brumas do sonho
Entre silêncios agonizantes
De uma intranquila consciência
Procuro os nadas indizíveis
Oiço murmúrios inaudíveis
Sinto-me perdida…

Cito de cor o que não me dizes
Fico ébria de desilusão
Entre lágrimas esquecida
Afogo-me num rio de mágoa
E acordo sobressaltada…

Não me quero iludir
Muito menos ficar conformada
Mas de ti já não espero nada!
E rejeito com convicção
Sentimentos de fachada
Amor de conveniência
Ou qualquer outra ingratidão.

2006

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Manhãs claras



Na nudez dos sonhos
despidos de esperança
procuro a verdade insofismável
da tua ausência.
E quase esqueço
a pérfida clareza dos dias
em que,
tendo-te a meu lado,
vagueei solitária
pelas manhãs claras
e me perdi
no escuro dos caminhos!


Setembro de 2006

domingo, 26 de agosto de 2012

Mar adentro



Rompem-se-me as palavras
Mar adentro
Como se fossem navios…
Soltam-se-me os afectos
Mar adentro
Como gaivotas que se libertam…
Ficam-se-me as mágoas
Terra adentro
Como um vulcão incandescente…
Rebentam-se-me profundos desejos
Terra adentro
Como se eu fosse maré viva
Num rio transbordante
De margens infinitas…

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Silente melodia



Cruzei-me um dia contigo,
Por mero acaso do destino…
De desconhecido a amigo
Foi um instante marcante!
Opostos na maneira de ser
A diferença não foi importante
Unidos na ânsia de viver
Tão próximos na essência do sentir!
Entre a minha vontade de aprender,
De novos mundos descobrir,
E o teu desejo de me ensinar
Arriscámos, sem mentir,
Nem promessas para quebrar,
Uma nova história construir…

Fui crescendo, fiz-me outra
Mais segura, a ti o devo
Foste mestre, eu fui aluna
(te agradeço, podes crer)
Aprendi o que sou hoje
(outra coisa não quero ser)
Mas do futuro tenho receio
Porque não posso mais esconder
Que aguardo impaciente
Que teus lábios pronunciem
Aquela silente melodia
Que aquece o coração
E sempre julguei utopia:
Amo-te com paixão!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Grito



Estou cansada.
Farta!
De tanta hipocrisia.
Apetece-me...
griiiiitaaaar!!!

Sinto os sonhos
em derrocada,
as ideias turvas
presas no labirinto
da vida...

Busco a certeza
do que não sou,
procuro encontrar-me
onde não estou.

Perdi-me!
Mas, afinal,
entre o grito
que não dei
e as palavras
que sufoquei...
sinto-me renovada.

Espero que ainda vá a tempo!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Abismo



À sua beira me cheguei,
trémula e insegura,
vacilei...
De olhos fechados,
devagar e a medo,
avancei...
Por um fugaz instante,
atraída pelo abismo,
julguei a morte desejar...
Mas a tempo recuei,
senti-me outra, renasci
e de alívio até chorei...


22-02-2007

domingo, 12 de agosto de 2012

Silêncio



Escuto...
as palavras que não me dizes.
Oiço-as com atenção!
E, pacientemente, espero...
que cheguem dias felizes
de partilha e emoção.
Desejo...
que não me venhas oferecer
o que, espontaneamente, te negas a dar:
uma palavra de amor
afagos e outros carinhos prometer.
Por isso, prefiro...
o teu silêncio, a imaginar
que dizes o que não sentes
apenas para me conquistar!

Síndroma do triplo i


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Espera



Olho o vazio
e espero…
Sinto a tua falta
e desespero!
A multidão corre
apressada,
indiferente…
E eu aqui…
tão só!
À minha volta
estende-se o nada…
Fachadas negras,
gente muda,
e tu que não chegas!
Começou a chover…
(Ou serão gotas
do meu sofrer?)
Abrigo-me…
na tua lembrança,
recordo o teu sorriso…
e renasce a esperança!

(17-01-2007)