terça-feira, 4 de setembro de 2012

Pescador solitário



Acorda cedo,
com o lento despertar da madrugada.
Lava do rosto o pesadelo da noite fria.
Sente-se um farrapo de si mesmo,
pálida imagem reflectida
no manchado espelho da memória.
Recorda vagas lembranças,
de um passado volátil
que a desilusão alimenta.
Estranho ser, vagabundo da esperança,
escondido nas sombras do presente,
e que, entre suspiros, para o infinito avança...

Veste as mágoas quotidianas,
calça a tristeza nos pés cansados.
Bebe o café da ausência,
trinca o pão da miséria.
Olha o leito vazio,
os desejos entre os lençóis sufocados.
Procura os sonhos enrodilhados,
Sobre o tapete caídos...

Afaga o fiel companheiro,
de seu nome, simplesmente, Rafeiro.
Pega na tralha do costume
e fecha a porta da barraca
a que gosta de chamar casa.

Sobre a areia da praia caminha
em direcção ao barco da saudade.
Deixa no solo um trilho etéreo,
de nostalgia e liberdade.
As emoções desfeitas ao vento,
perdidas nas ondas do esquecimento.
Solitário enfrenta o mar,
onde lança as redes com fervor,
e das águas salgadas recolhe…
… um cardume de novos sonhos.

2005

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